Tuong Tuong e a imaginação despertada por "Cat on Fence" de Alex Colville
"Cat on Fence" de Alex Colville: A Magia do Real na Contemplação do Quotidiano
Alex Colville, pintor canadiano conhecido pelo seu estilo de Realismo Mágico, apresenta em Cat on Fence (1956) uma composição que, à primeira vista, parece bastante simples: uma cena de um gato empoleirado numa cerca de madeira, fixo num ponto à frente. Porém, ao observar mais atentamente, esta imagem quotidiana transforma-se em algo profundo e inquietante, evocando reflexões sobre o papel da atenção e do silêncio na vida.
O estilo de Realismo Mágico, adotado por Colville, é definido pela representação realista de cenas comuns, mas imbuídas de uma atmosfera de mistério e suspense, como se cada detalhe possuísse uma carga invisível e enigmática. Em Cat on Fence, esta magia surge na tensão que Colville cria ao combinar uma cena banal com uma sensação de vigilância e isolamento. O gato, uma figura de serenidade e alerta, parece estar profundamente atento ao ambiente, tornando-se um espelho da nossa própria busca por sentido em momentos rotineiros.
Este uso de elementos da vida animal não é um acaso, mas sim um recurso artístico para comunicar sentimentos universais de observação e paciência. O gato na cerca representa a própria essência do Realismo Mágico: enquanto testemunha do mundo, é simultaneamente um ser independente e atento, simbolizando a fronteira entre o que está próximo e o que permanece desconhecido. Este isolamento é intensificado pela composição limpa e pelos tons minimalistas da obra, refletindo uma clareza quase meditativa. Há um contraste entre a serenidade do animal e a possível presença de algo que não conseguimos ver – talvez uma presa, ou simplesmente o vazio do campo à sua frente.
Colville leva-nos a questionar o que este gato poderia estar a observar e o que, ao mesmo tempo, isso nos revela sobre nós próprios. A obra parece lembrar-nos de que mesmo nas nossas vidas aceleradas e preenchidas de ruído, há momentos em que precisamos de uma pausa e de um olhar atento e paciente. Assim como o gato na cerca, também nós podemos encontrar uma riqueza silenciosa na observação dos detalhes mais simples do dia a dia.
O contexto de criação, nos anos 1950, pós-Segunda Guerra Mundial, traz ainda uma camada adicional de significado. O desejo de encontrar beleza e profundidade no mundano pode ser visto como um ato de reconciliação e paz com a vida quotidiana. O Realismo Mágico de Colville não é fantasioso, mas sim ancorado na realidade; é mágico porque revela o espanto e o mistério do que já está aqui, diante dos nossos olhos, se estivermos dispostos a observar.
Cat on Fence é, em última análise, uma reflexão sobre a quietude e o encantamento de simplesmente estar presente. Colville convida-nos a um espaço de introspeção, onde a vida animal e a humana se encontram no silêncio. É uma chamada para parar e ver – realmente ver – e talvez descobrir, no silêncio e na observação, algo de profundo e inexplicável que nos enriquece e tranquiliza.